quinta-feira, 10 de outubro de 2024

CINERINGY: Lamhe, de Yash Chopra

Hoje o filme a posar no Cineringy é o clássico atemporal do maior diretor em língua hindi de todos os tempos, o diretor indiano Yash Chopra. Muito polêmico na época, foi um fracasso de bilheteria tão grande que quase fez o Yashji se jogar de um prédio, mas rendeu um prêmio Filmfare (o equivalente ao Oscar para o cinema indiano, apesar de hoje em dia ter virado várzea —  igual o Oscar) de Melhor Atriz para a Sridevi e com o passar do tempo se estabeleceu como um clássico de Bollywood.


SINOPSE: De volta ao Rajastão, terra ancestral de seus familiares, Virendra "Viren" Pratap Singh conhece Pallavi e se apaixona à primeira vista, não se importando se ela é 8 anos mais velha que ele. Mas Pallavi ama outro homem e se casa com ele. Um ano após o casamento, Pallavi morre e deixa uma filha, chamada Pooja Bhatnagar. 18 anos depois da morte de Pallavi, Viren conhece Pooja, que é o espelho de sua mãe, e a garota se diz apaixonada por ele.

Depois de muita insistência de uma amiga super querida, fui assistir a esse filme com a mente mais aberta possível, porque sou meio muito criteriosa quando se trata de histórias de age gap  —  a maioria são histórias bem esquisitas. Mas assistir Lamhe de mente aberta e sem julgamentos foi a melhor coisa que fiz pelo meu eu cinéfilo. A primeira parte do filme é simplesmente primorosa. Sou uma chorona de mão cheia, então senti a atuação de Anil Kapoor como o jovem Viren com tudo a que tinha direito. E que trabalho incrível o Anil faz nessa primeira metade. O Viren não precisa falar nada, porque seu rosto já diz o quanto ele está apaixonado, ferido, desiludido e enfim uma casca grossa incapaz de amar romanticamente nenhuma pessoa que não a finada Pallavi. Em minha honesta opinião, pra mim tão melhor é o ator quanto mais ele consegue se expressar sem o apoio dos diálogos. E o Anil simplesmente brilhou (e me estraçalhou).

Quanto a Sridevi, temo que não exista um Melhor Atriz mais merecido do que esse que ela ganhou por Lamhe. Ela conseguiu diferenciar a encantadora Pallavi da sonhadora Pooja com uma finesse que só Deus. Não tenho nem palavras pra descrever o quão life-changing foi sua performance em Megha Re Megha. Mas apesar de sua Pallavi ser hipnotizante, eu particularmente prefiro sua atuação como a pequena Pooja. Fala sério, quando Lamhe foi gravado a Sridevi devia ter uns 26 ou 27 anos. Ela interpretar uma garotinha tão brilhantemente (e tão importante quanto: ter cara de garotinha!!!) merece todos os louros do mundo. Pooja não conhece nada no mundo que não sua paixão de longa data por Viren e sua energia e criatividade vibrantes, e Sridevi nos mostra isso em cada trejeito e maneirismo de Pooja.


Sei que você que lê e nunca assistiu a Lamhe deve estar se perguntando: “ué, se a Pooja tem 18 anos, como ela tem uma paixão de longa data por Viren?”, e a resposta é… Tendo. Pooja é apaixonada por Viren desde que tinha 5 anos de idade. “E eles ficam juntos no fim do filme?” Ficam. E como isso se deu, só assistindo o filme pra saber! A única coisa que posso garantir é que, definitivamente, não foi grooming. 

Como nada é perfeito, aqui vai os problemas. Alguns por conta do contexto histórico em que foi filmado, outros porque só me deram nos nervos mesmo. O que me deu nos nervos é a existência do personagem do Anupam Kher, o Prem. Teve uma cena em específico que me fez querer esganar esse personagem. Sinceramente não consigo entender como nem porque o Anupam ganhou um Filmfare de Melhor Comediante com ESSE personagem. Ou a concorrência tava no esgoto, ou as noções de humor da Índia dos anos 90 eram as piores possíveis. O bom é que ele serve um embate muito bom com o Viren no fim do filme, o que tornou a chatice dele quase perdoável pra mim. Quase.

O problema graças ao contexto histórico foi a cena do tapa, lá no finalzinho do filme. Nos anos 90 não se tinha a noção de relacionamento saudável que temos hoje, muita coisa bizarra era bem normalizada (comparada a algumas coisas, essa cena foi brincadeira de neném). Se considerar o contexto histórico, a cena é até engolível  —  filmes, assim como todas as formas de arte, são um retrato da época em que foram feitos. E ainda assim, provoca a discussão do quanto os parâmetros eram minúsculos para a mulher, o quanto evoluímos de lá pra cá (hoje em dia isso seria inconcebível) e o quanto temos a evoluir ainda. Apesar disso, ainda gosto do casal, apesar de passar longe de justificar a atitude. Os filmes do Yash Chopra tem como praxe sempre causar uma discussão, seja a nível social, como Lamhe, seja sobre o próprio universo do filme. Acho que foi isso, além dele ser um romântico incurável, que o tornou tão atemporal.

Fora essas coisas, tudo é perfeito. A construção da casca de Viren até Pooja a partir é muito meticulosa e fenomenal. A fotografia é perfeita, acho que o Rajastão nunca esteve tão lindo quanto na época que gravaram Lamhe. Uma coisa que gosto nesse filme é que, mesmo que à primeira vista Viren tenha ficado mexido por Pooja se parecer tanto com Pallavi, ele sempre teve em mente que Pooja não era Pallavi e repetiu isso bastantes vezes durante o longa. As músicas, e claro, a coreografia divina de Saroj Khan estavam simplesmente on fire, on point e sei lá mais o que. Tudo um deleite para os olhos e pro espectador.


A mensagem que Yashji quis passar, ao aceitar dirigir o filme, é que o amor não tem idade. Viren não se importa se Pallavi é 8 anos mais velha assim como Pooja também não se importa se Viren é 20 anos mais velho. Pra sociedade indiana da época, foi uma mensagem relevante, já que os homens quase nunca se casava ou se permitiam gostar de mulheres mais velhas. Pra se ter noção, Pallavi foi o primeiro interesse amoroso da história de Bollywood a ser mais velha que o herói.

E ao assistir Lamhe, você entende fácil porque ele se tornou um clássico não muito tempo depois. O que você não entende é como as pessoas deixaram fracassar um filme fantástico, mesmo que ele estrelasse Anil Kapoor e Sridevi, superestrelas na época. Graças a Deus o tempo fez justiça a essa joia que nos deixa com muito o que pensar e refletir. Enfim, eu particularmente gosto muito e pretendo assistir mais vezes. A única coisa que eu mudaria é que a Pooja fosse um pouquinho mais velha. 18 anos com um cara de 38 não entra bem na minha cabeça ainda! Mas amei Lamhe ainda assim. Nota 4.5/5.

Lamhe está disponível no Prime Video com legendas em inglês e em português, mas as legendas em português foram traduzidas automaticamente ao invés de por um tradutor humano. Algumas falas vão ficar esquisitas em português, mas dá pra assistir tranquilo. Fica a recomendação pra caso você ache que eu tenha exagerado e/ou queira conferir esse babado com os próprios olhos. Mas o Yash Chopra nao me emociona assim desde Chandni (na verdade ele me irritou e muito nesse filme). Enfim, aprovadíssimo no Cineringy.


Até breve!


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